26.11.10

Choveu

Depois de enfrentar o castigo da seca por longos meses, a Chapada recebe o primeiro temporal. As chuvas tomam de volta vidas que lhes pertenciam.

22.11.10

Noturno

Do alto da serra da cachoeira Almécegas, a floresta sente a noite invadir suas artérias. Raios e trovões. Já chovia em algum lugar, mas não ali.

Do dia pra noite

E foi então que choveu. Grandes nuvens cobriram o sol. Tudo ficou cinza e pesado. O céu prestes a desabar. O vento correu veloz pelo Jardim de Maytrea. Palmeiras se dobravam. O morro se curvava. Um longo e alto assobio. 130 dias de chuva prestes a cair sobre a Chapada dos Veadeiros.

Amarelo carvão

11.11.10

O Passado

O fogo passou por onde duas pessoas dormiam. Mas elas já não estavam mais lá. Abandonaram o lugar logo que a seca deixou o ar difícil de respirar. Ninguém viu como as redes puderam ficar intactas. Agora espera-se a vez da chuva.

Jardim de Maytrea

Esse era o fundo do mar. O platô superior do Morro da Baleia era uma pequena ilha. As ondas se jogavam por cima dele, atirando espuma para o alto e revelando seu precipício. Sem oceano, o fogo queimou todo o vale ao redor do morro. Uma pequena chuva devolveu o tom verde do chão. As palmeiras ainda guardam as marcas da queimada. Dizem que em algum lugar desse cenário seco surgirá o novo Buda (Maytrea).

6.11.10

Nada passa

O sol pára tudo: terra, plantas, pedras, nada tenta se mover. Como se a própria respiração fosse o esforço fatal que consumisse as últimas energias preservadas. Não há vento e não há vida. Não há nada. Ou se chove ou se morre.

3.11.10

O Refúgio

Dizem que à medida que se avança numa trilha da natureza, o cansaço se torna insuportável, e depois é deixado pra trás. Assim como as dores, o arrependimento, as culpas, a solidão. O corpo se torna leve. E as margens do caminho, que antes eram secas e mortas, aparecem em cores vivas. À medida que se avança numa trilha da natureza.

2.11.10

Flor do Caos

Caliandra. Esse é o outro nome dessa flor que nasce do fogo. Sua semente esteve enterrada por muito tempo. Adormecida. O fogo do Cerrado, comum na época da seca, faz tudo virar carvão. Mas também quebra a dormência de algumas sementes. A Flor do Caos nasce desse fogo. É a primeira vida que aparece depois das chamas. 

Semente dormente

Por dentro da rocha, ao lado da árvore

Refletores naturais localizam a presença da pequena estrela. Diziam que nasceria do breu. Por isso todo mundo esperava que viesse com o escuro do céu. E por dias os olhares voltaram-se para cima. Nasceu no Vale da Lua, no palco negro da Chapada dos Veadeiros, aos cinco dias de outubro de 2010.

26.10.10

Atirem os seus mortos no casco preto do chão

Folhas secas, na seca, são mortas. Na queimada, são vivas.

Corpo Queimado

Abandonado

Estava lá, no meio do caminho. O fogo passou por cima. Queimando impiedosamente até romper seu corpo na parte mais frágil da sua substância. Antes dele, plantas e árvores mais novas caíam por todos os lados.

23.10.10

Queimada

Dizem que árvores mortas viram fantasmas. Mas, o que não sabem é que elas estão vivas. Houve um mal entendido: meio mortas e desesperadas, elas viram o fantasma. 

22.10.10

Folha Carvão

Umas queimaram vivas, outras nasceram queimadas. O sol que castigava, agora acende energia. 

Sobre raízes e folhas

Por aqui andou o fogo, mas depois correu a chuva. Por isso, quem sabe, voltem a passar alguns daqueles animais.